quarta-feira, 9 de julho de 2008

Especialistas trazem mais entendimento sobre as culturas de pinus e eucalipto

9/7/2008
O plantio de pinus e eucalipto ainda é motivo de discórdia no país, com as monoculturas em grande escala sendo acusadas, entre outros impactos ambientais, de ameaçar à biodiversidade e causar o esgotamento de água nas áreas de plantio. Especialistas acreditam que é preciso diferenciar os processos realizados no período de expansão da silvicultura (entre as décadas de 1960 e 1980) dos reflorestamentos sustentáveis.
O engenheiro agrônomo e silvicultor José Antônio Cardoso Farias, entende que qualquer cultura em exagero causa danos ambientais. “O problema é que no passado, as empresas de papel e celulose invadiram áreas de preservação para plantar pinus e eucalipto. A culpa não é das espécies em si, mas das pessoas que as cultivaram de maneira errada”, explica.
Outros profissionais do setor compartilham dessa visão."O problema não é o eucalipto, e sim a monocultura em grande escala associada ao monopólio. É quando uma empresa planta 200 mil hectares em uma só área e não gera empregos, não movimenta a economia local", explica Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo do Greenpeace. Segundo ele, o problema é recorrente tanto nas culturas de eucalipto quanto de soja, cana ou café. "É esse modelo agrícola que traz impactos".
Farias afirma que as culturas de pinus e eucalipto não causam problemas ambientais se plantadas de forma correta, de acordo com as normas estabelecidas por órgãos responsáveis . “É preciso fazer um planejamento e prever uma distribuição de culturas diferentes dentro da propriedade a ser utilizada. É necessário trabalhar o uso racional do solo, respeitar as restrições de declividade, não invadir áreas de preservação permanente – como as matas ciliares - nem plantar próximo a fontes de água”.
Ele entende que, se bem estruturado, o cultivo de pinus e eucalipto pode ser uma excelente fonte de renda para agricultores familiares. Em Santa Catarina, explica, o projeto Microbacias, juntamente com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do estado, fazem um trabalho de que auxilia os produtores a determinarem as formas mais sustentáveis de plantio.
Dois lados
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que recentemnte invadiu áreas de empresas de papel e celulose no Rio Grande do Sul e em São Paulo, acusa a expansão das monoculturas de pinus, eucalipto e cana-de-açucar de tomar o espaço produção de alimentos, encarecendo o preço dos produtos para os consumidores finais. Também diz que os pequenos agricultores são prejudicados pela política das empresas multinacionais do setor, que controlam as sementes, os adubos e os agrotóxicos, determinando o preço desses insumos.
As indústrias do setor, por outro lado, têm buscado reverter essa imagem. Uma pesquisa desenvolvida em fazendas de Santa Catarina compreende as formas de dispersão e crescimento do pinus e pretende desmistificar a imagem invasora da espécie. O estudo defende que o pinus é facilmente controlado e não ameaça a integridade ecológica do meio ambiente.
“O trabalho foi realizado em quatro anos e teve entre os principais objetivos avaliar a dispersão de sementes, o potencial de regeneração e o efeito do ambiente na rebrota", explica Itamar Bognola, pesquisador da Embrapa e um dos autores do trabalho.
A primeira fase quantificou a queda de sementes, a distância de dispersão e o percentual de germinação. Verificou-se que 95% das sementes não se espalharam por mais de 50 metros; e a pequena quantidade de sementes que ultrapassou essa distância teve percentual de germinação quase nulo.
A segunda etapa comprovou baixíssimos índices de germinação em diferentes ambientes, como banhado, taquaral, pedreira, mata fechada, capoeirinha degradada, lajeado, nascente d´água, pastagem natural, entre outros. O maior número de sementes germinadas foi registrado no lajeado, com o índice de 18,25%, considerado muito baixo. Na pedreira, o índice foi 1,13%.
A última fase do estudo verificou a rebrota da espécie. Os exemplares de pinus com menos de cinco anos que foram cortados a 10 centímetros do solo não apresentaram regeneração. "Isso comprova que os cortes rasos não permitem que o pinus se regenere. Ou seja, é uma forma prática das empresas florestais controlarem a espécie em locais inapropriados", afirma Bognola.
Mais cuidados
O biólogo e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) João de Deus Medeiros esclarece que pinus é um gênero de gimnosperma com cerca de 113 espécies diferentes, originárias de diversas áreas do hemisfério norte e que, cada uma dessas espécies apresenta características e comportamentos muito distintos. “Logo é um generalização inadequada dizer que pinus é uma planta invasora, dizer o inverso também”, entende. “Algumas espécies de pinus apresentam esse tipo de comportamento, entre as quais Pinus Elliottii e Pinus Taeda. Essas são as duas principais espécies cultivadas no Brasil há mais de 30 anos”, completa.
Ele destaca que o comportamento agressivo e contaminante dessas espécies de pinus são mais evidentes sobre ambientes abertos (restingas e campos, por exemplo). “Desse modo, a expansão ou contaminação em ambientes florestais, notadamente florestas úmidas e sombreadas, é realmente pequena. Essa conclusão nada tem de inédito ou inovador”.
Quanto aos dados sobre germinação, Medeiros considera difícil fazer comentários sem conhecer o estudo na íntegra, mas diz que as informações divulgadas não são corroboradas pelos dados médios difundidos por outros estudos técnicos.
“Sobre o fato de se poder prover controle sobre a expansão dessas plantas, mitigando seus efeitos contaminantes, igualmente nenhuma novidade”, afirma. Existem vários modos de se prover esse controle, amplamente difundidos, ainda que solenemente negligenciados nos plantios efetuados no Brasil, explica Medeiros.
Mais ganhos
A tecnologia também tem atuado a favor do setor florestal: 12 experimentos de campo com variedades transgênicas de eucalipto foram liberados no último mês pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e devem entrar em comercialização dentro de dois a três anos.
Com isso, o país poderia ampliar os ganhos que já obtém com o setor florestal, que atualmente, movimenta 28 bilhões de dólares, ou 3,5% do Produto Interno Bruto; emprega 4,6 milhões de pessoas (4,4% da população economicamente ativa); e gera um superávit comercial de 4,7 bilhões de dólares (8,4% do superávit total do Brasil).
“As variedades transgênicas de eucalipto buscam aumentar a qualidade da madeira, seja pelo aumento da quantidade de celulose, seja pela alteração ou redução do teor de lignina”, diz farmacêutico e Ph.D. em Biologia Molecular Giancarlo Pasquali, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele explica que, ao apresentar maior teor de celulose ou diminuir as perdas dessa substância, os eucaliptos geneticamente modificados aumentam a produtividade das florestas, já que a mesma área plantada passa a render uma quantidade maior de celulose.


Fonte: Portal REMADE / CarbonoBrasil.

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