21/6/2008
Nerter Samora
O anúncio de novos projetos da Aracruz Celulose em Governador Valadares pode significar a ampliação e conseqüente agravamento do processo de desertificação em marcha no Espírito Santo e a extensão do cinturão da monocultura do eucalipto em solo capixaba. A implantação de um novo pólo de celulose em Minas Gerais pode surgir como a solução para a expansão da monocultura nas faixas de terra antes tidas como antieconômicas. Devido à proximidade com o Estado, esse novo pólo poderá facilmente utilizar novas plantações de eucalipto em solo capixaba, dessa vez em terras ainda não exploradas no norte e noroeste do Estado, além de servir como extensão do atual parque industrial, em Aracruz. A intenção da multinacional foi divulgada na edição desta quinta-feira (19) do jornal "Valor Econômico", na forma de uma matéria que dá como quase certos os novos investimentos, avaliados em até R$ 5 bilhões.
A base do novo projeto deve ser o município de Governadores Valadares, que fica a 324 quilômetros de Belo Horizonte e a 410 quilômetros de Vitória. Está localizado em uma região estratégica: amplas áreas para o plantio de eucalipto e no meio de duas das unidades industriais da companhia, a de Barra do Riacho, no município de Aracruz (ES), e a da Veracel, em Eunapólis (BA).
Apesar da distância, a notícia causa apreensão nos capixabas, pois, apesar de o projeto ser instalado fora das terras capixabas, utiliza como vantagem comparativa a ligação do novo pólo com Portocel, em Barra do Riacho, no município de Aracruz, via Ferrovia Vitória Minas. Com isso, os custos de produção caem vertiginosamente.
A iniciativa da transnacional poderá representar também a ampliação da monocultura do eucalipto em solo capixaba, já que as terras das regiões norte e noroeste do Estado, que ficavam fora de sua alçada, passam a ser alvo do novo pólo. E a explicação é simples.
A questão econômica sempre esteve no foco da Aracruz Celulose, em especial sobre os custos na obtenção de matérias-primas para a produção. No início de suas atividades, na década de 1970, a transnacional não enfrentou problemas com a questão, já que foram adquiridas muitas terras em torno da fábrica, o que facilitava o transporte da madeira até a planta industrial.
No entanto, o intenso uso das terras para a monocultura gerou a desertificação, que empurrou para longe da fábrica os eucaliptais, forçando a empresa a impor uma barreira para os que consideram uma cultura antieconômica, aceitando apenas plantações de eucalipto até um raio de 150 km da fábrica.
Embora o município mineiro fique a quase 300 quilômetros do porto, fator determinante para o escoamento da celulose, a Aracruz poderá tirar proveito da Estrada de Ferro Vitória a Minas, que já é utilizada pela Cenibra, grande fabricante da matéria-prima com sua unidade em Belo Oriente, Minas Gerais.
Esse novo projeto pode permitir que a empresa acabe de uma vez com a limitação e passe a criar o seu cinturão de eucalipto no caminho de Valadares. A explicação é novamente econômica, já que nessas regiões os preços das terras são mais baixos.
Com isso, cidades capixabas como Colatina, Baixo Guandu, Mantenopólis e Alto Rio Novo passam a ser alvos da nova corrida atrás de terras para a monocultura do eucalipto. Em Minas Gerais, cidades próximas da divisa do Estado como Nanuque e Aimorés, também deverão sofrer com as especulações trazidas pelo novo projeto da Aracruz Celulose.
A idéia é criar na região Sudeste um "vale da celulose", com as suas atenções voltadas ao Espírito Santo, onde fica situada a maior fábrica da Aracruz, com 3,1 milhões de toneladas e previsão de chegar a sete milhões de toneladas anuais.
A nova postura dos acionistas do Aracruz é de dobrar a produção de celulose para atender aos mercados aquecidos que precisam da pasta de celulose, em especial o chinês. A pasta é o produto final da produção.
Depois de aprovar a ampliação da fábrica de Guaíba, no Rio Grande do Sul, que começa a operar em 2010, e definir os estudos finais para duplicar até 2012 a unidade da Veracel, no sul da Bahia, a meta agora é a implantação de seu terceiro megacomplexo industrial.
Os executivos da fabricante de celulose já estão negociando os incentivos fiscais com as autoridades mineiras, a exemplo dos que receberam do governo capixaba. Por isso, a expectativa é que o protocolo de investimentos saia até o mês de junho.
Segundo a reportagem, uma fonte do governo mineiro disse que "as negociações estão avançadas e devem ter um desfecho positivo em breve". Com isso, os capixabas já podem se preparar. Vem aí mais uma investida da Aracruz rumo à expansão da monocultura do eucalipto.
Fonte: Ambiente Já / Século Diário.
sábado, 21 de junho de 2008
Aracruz anuncia megaprojeto próximo ao ES e MG e põe em risco novas áreas capixabas
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