
Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*
Diante de números crescentes de desmatamento no Brasil, o Ministro Carlos Minc acerta ao propor a criação do CIDE como uma ferramenta de gestão interna do governo pois irá permitir o compartilhamento na tomada das decisões e também das responsabilidades diante desta questão gravíssima em nosso país. O CIDE coloca, na prática, a transversalidade defendida pela ex-Ministra Marina Silva. Entretanto, só o CIDE não pode ser uma varinha mágica para dar solução ao problema. Assim, sua criação não vem de forma isolada, mas no conjunto de uma série de 12 medidas. O país e nossas florestas torcem pelo Ministro e sua equipe, por que do sucesso deles depende mudar o atual ritmo de destruição ambiental.
As críticas devem ser vistas como importantes para o aperfeiçoamento da gestão. Num país democrático não é ético pretender não dar ouvidos aos críticos numa tentativa de desqualificá-los como se fossem apenas adversários políticos, ou gente com interesses contrariados, ou movida apenas por inveja e ciúme. Por mais bem preparados que sejam os técnicos e administradores que estão no poder, não sabem tudo, não podem tudo e principalmente diante de fatos gravíssimos para o país, como o desmatamento, que exigem muito mais que as 12 medidas propostas. Faltou, por exemplo, incluir o fortalecimento e envolvimento mais efetivo de outro conselho federal, o CONAMA que além dos representantes dos seis ministérios do CIDE, inclui representantes das demais altas esferas do poder executivo, legislativo e judiciário, de órgãos militares do país, da sociedade civil, da iniciativa privada, entre outros, logo, um conselho superimportante que precisa ser prestigiado e fortalecido como espaço democrático de discussão para este e outros temas ambientais, , por que foi para isso que foi criado, evitando deixar que se torne apenas num espaço de referendo entre o que o governo quer e não quer aprovar.
Também salta aos olhos no pacote das 12 medidas a falta de ações e investimentos em educação ambiental e comunicação ambiental, por que conter o desmatamento exige muito mais que pretender colocar um guarda atrás de cada árvore. Para envolver a sociedade no esforço de conter o desmatamento o governo precisará cuidar com maior cuidado e dar prioridade e investir mais em educação ambiental e comunicação ambiental para que os consumidores possam fazer escolhas melhores, consumindo com cada vez mais responsabilidade, exigindo o selo de origem ambientalmente correta nos produtos de madeira que adquirir.
O próprio Ministro Minc reconheceu em sua ‘Carta aos Ambientalistas”, que publicamos na íntegra na edição anterior, que a velocidade em que o governo consegue fechar uma carvoaria não é a mesma com que consegue gerar empregos para realocar estes trabalhadores numa nova atividade econômica ambientalmente legal no mesmo lugar. Então, a tendência é a atividade ambiental ilegal recomeçar assim que o fiscal virar as costas. E como meio ambiente e justiça social andam juntas, quando a fiscalização chega é comum encontrar, além do crime ambiental, também o crime contra trabalhadores submetidos à escravidão. O criminoso que os contratou sabe bem dos riscos e por isso mesmo trata de colocar-se inalcançável aos braços da lei, atuando através de laranjas.
Tem muita gente gananciosa e sem escrúpulos que aposta na ilegalidade e se oculta entre as pessoas de bem nos setores de agricultura, pecuária, madeireiro, carvoeiro, siderúrgico, e outros intensivos de recursos naturais, que são necessários e imprescindíveis numa sociedade como a nossa que precisa de bens de consumo que dependem da exploração destes recursos naturais. Por isso, é estratégico para o combate ao desmatamento identificar e fortalecer as pessoas e organizações sérias que trabalham honesta e corretamente, como os setores de madeira manejada e certificada, por exemplo. Uma forma de mais rapidamente deixar expostos os que apostam na ilegalidade e na ganância para enriquecerem rápido e de qualquer jeito, separando o ‘joio do trigo’, sob pena da sociedade achar que são todos ‘farinha do mesmo saco’. E não são. É importante investir nisso, para estimular e fortalecer as pessoas de bem que existem nestes setores - e que são maioria -, a fazerem o ‘dever de casa’, identificando o expulsando os criminosos que se escondem entre eles, além de negar apoio aos maus políticos e aos corruptos.
* Vilmar é escritor e jornalista ambiental, é fundador da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental e editor da Revista do Meio Ambiente e do http://www.portaldomeioambiente.org.br/ Em 1999, ganhou o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e em 2003 o Prêmio Verde das Américas. Contatos: vilmar@rebia.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário